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quinta-feira, 5 de fevereiro de 2009

Ponteiros

-Que horas são?
-Vai pra puta que pariu!
Assim respondia, na cara dura, o dono e único atendente da loja de relógios, Seu Norberto. Já cansara das piadas que algum infeliz sempre largava ao passar em frente à sua loja. A quantidade de relógios lá dentro era enorme e seria impossível chegar a um horário exato. Os ponteiros tinham vida.
-Oh! Seu Norberto! Que horas são? Preciso tomar meu remédio. - Querendo ver o circo pegar fogo, gritou o farmacêutico que morava na cobertura.
-Cretino.

-x-

Naquela véspera de feriado a loja de relógios não abrira, e durante todo o feriadão continuou fechada para o público. Não ouvia-se um tic-tac, um trililim, nem um piadista de vez em quando. Acabaram-se as piadas sobre os relógios, acabou-se a alegria naquela rua. E talvez o tempo estivesse demorando mais a passar. Demorou, mas chegou, aquela manhã de dia útil:
-Pode abrir, tá na hora. - Seu Norberto, ansioso como uma criança abrindo um pacote de figurinhas.
-Agora sim! Perfeito! Lindo! - Acabara de completar o álbum.
Estava sendo inaugurada a sua nova loja. No mesmo lugar, com os mesmos relógios, apenas uma pintura nova e um novo atendente. Agora as piadas poderiam continuar.
-Rápido Seu Norberto! To atrasado. Que horas são?
-Uma e vinte.
-Como?
-Uma e vinte.
-Ahn, sério?
-Sim. Uma e vinte e um agora.
Com a ajuda do novo assistente acertaram todos relógios para o mesmo horário. Finalmente o fim das piadas sem graça.
-Mas e aquele com números romanos atrás do balcão? Ta certo também?
-Perfeitamente.
-Bom. Ta na hora né. Vou indo.
-Volte sempre.
Uma sensação extasiante ver todos os ponteiros apontando para a mesma direção. Até despertavam todos ao mesmo tempo. Uma beleza. Seu Norberto comteplava o seu cuco enquanto via os minutos passarem e as piadas acabarem.
Então chegou o horário de verão.

(dri)

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